Imagine se você fosse a um médico com um super microscópio capaz de analisar o DNA das células do seu cérebro (sem precisar tirá-las de dentro da sua cabeça, claro), e ele te dissesse que vários dos seus neurônios possuem números aberrantes de cromossomos, além de várias alterações genéticas, chamadas “variações no número de cópias” (CNVs, em inglês). Qual seria sua reação? Você ficaria preocupado?
Seria natural que ficasse. Mas não se preocupe: variações genéticas são comuns no cérebro humano, e podem até ser uma parte essencial do funcionamento dele, segundo um estudo publicado na edição de hoje da revista Science.
Liderado por cientistas do Instituto Salk para Estudos Biológicos, em La Jolla, na Califórnia, o estudo expande e confirma resultados anteriores produzidos por pesquisadores brasileiros (Stevens Rehen e Alysson Muotri) alguns anos atrás, também na Califórnia. Juntos, eles mostram que o cérebro humano abriga um curioso mosaico de neurônios com diferentes composições cromossômicas e genéticas – e que isso é absolutamente normal!
Nesse estudo mais recente, os pesquisadores analisaram o DNA de neurônios colhidos do cérebro de doadores (post mortem) e gerados in vitro por meio da diferenciação de células-tronco de pluripotência induzida (iPS). Em ambas as amostras, encontraram uma alta incidência (entre 13% e 41%) de células com grandes trechos de DNA repetidos ou apagados dentro de seus genomas (as chamadas CNVs), e até 7,5% delas com cromossomos a mais ou a menos do que os tradicionais 46 (característica conhecida como aneuploidia). Ou seja: dois neurônios da mesma pessoa não são geneticamente idênticos, podendo haver diferenças significativas entre eles – desde variações entre trechos de DNA até ausência ou duplicação de cromossomos inteiros.
Qual o motivo ou a função deste “mosaicismo” neuronal? Ninguém sabe ainda, mas especula-se que essa variabilidade genética esteja diretamente ligada à grande variabilidade de funções executadas pelos neurônios no cérebro. Ou então, podem ser alterações simplesmente inócuas… difícil saber, pois não há como testar isso na prática, num paciente vivo, com o cérebro funcionando. Com o avanço das pesquisas in vitro com células-tronco iPS, porém, talvez apareçam algumas pistas interessantes nos próximos anos.
O trabalho do Instituto Salk faz parte de uma edição especial de artigos e estudos sobre neurociências publicadas hoje pela Science.
Fonte ( MSN + Estadão )
Gi Ferro – Viver Autismo
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