Um estudo recente conduzido nos Estados Unidos trouxe à tona uma realidade preocupante: as internações psiquiátricas entre adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm aumentado de forma alarmante. O levantamento revelou que grande parte desses casos está relacionada a crises de saúde mental, como ansiedade intensa, depressão e colapsos emocionais. Ainda mais grave, muitos dos pacientes acabam sendo readmitidos em menos de um mês após a alta, evidenciando lacunas profundas no acompanhamento e na estrutura de cuidado.
Os dados apontam que o sistema de saúde, tanto público quanto privado, não tem oferecido o suporte adequado a essa população. A ausência de acompanhamento especializado após o diagnóstico, a falta de terapias adaptadas à vida adulta e o despreparo das equipes médicas criam um cenário de vulnerabilidade constante. “Esses números mostram o que profissionais da área já sabem: adultos autistas estão adoecendo emocionalmente porque o sistema não os enxerga”, explica o psicólogo clínico e pesquisador João Ferreira.
O contraste com a infância é evidente. Durante os primeiros anos de vida, muitas pessoas autistas contam com terapias regulares, programas educacionais adaptados e acompanhamento multiprofissional. No entanto, ao atingirem a vida adulta, o apoio desaparece. Sem redes estruturadas de cuidado, muitos acabam enfrentando crises severas que poderiam ser evitadas com um suporte contínuo.
O ambiente hospitalar, por sua vez, costuma ser um agravante. Profissionais despreparados, espaços sensorialmente sobrecarregados e ausência de protocolos específicos tornam a internação uma experiência traumática para muitos autistas.
Entidades e associações ligadas à causa têm pressionado governos e instituições para investir na capacitação de equipes médicas, ampliação do acesso a terapias especializadas e criação de políticas públicas voltadas para o adulto autista.
Mais do que um alerta, o aumento das internações psiquiátricas revela uma falha estrutural: a sociedade ainda não está preparada para garantir a continuidade do cuidado às pessoas no espectro. O desafio não é apenas clínico — é humano. Sem um olhar integral, o risco é perpetuar um ciclo de sofrimento evitável em uma população que precisa, acima de tudo, ser compreendida e acolhida.
Gi Ferro – Viver Autismo
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