À medida que mais crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) recebem diagnóstico e apoio durante a infância, surge um novo e necessário debate: como preparar esses jovens para uma vida autônoma e independente na vida adulta? A conquista da autonomia não é apenas uma meta pessoal, mas uma construção social que envolve família, escola, profissionais de saúde e políticas públicas.
Embora o autismo acompanhe o indivíduo por toda a vida, o nível de suporte necessário varia amplamente. Enquanto alguns autistas podem atingir altos níveis de independência, outros continuarão a precisar de apoio constante. Ainda assim, é fundamental que todos tenham acesso a oportunidades que os ajudem a desenvolver habilidades funcionais, sociais e emocionais — pilares essenciais para a construção da vida adulta.
Educação para a vida prática
Uma das bases para a independência é o ensino de habilidades práticas desde cedo. Atividades como organizar a rotina, cuidar da higiene pessoal, utilizar transporte público e lidar com dinheiro são exemplos de competências que podem e devem ser ensinadas de forma gradual e adaptada. Escolas e programas de educação inclusiva têm um papel crucial nesse processo, indo além do conteúdo acadêmico tradicional para incluir treinamentos voltados à vida real.
Trabalho e capacitação profissional
O acesso ao mercado de trabalho é um passo decisivo para a independência. Para isso, iniciativas de capacitação profissional inclusivas são fundamentais. Infelizmente, o Brasil ainda carece de políticas públicas robustas nesse sentido, e muitas empresas não estão preparadas para acolher profissionais autistas. Projetos de empregabilidade assistida, programas de estágio adaptados e mentorias têm mostrado bons resultados e precisam ser ampliados.
O papel da família e da rede de apoio
A autonomia de um jovem com autismo também depende do envolvimento e da preparação de sua família. Muitos pais têm dificuldades em “desapegar” e permitir que os filhos experimentem a independência, mesmo que de forma gradual. Por isso, é importante que as famílias recebam orientação e apoio psicológico ao longo dessa transição, reconhecendo o potencial do jovem, ao mesmo tempo em que avaliam realisticamente suas necessidades de suporte.
Grupos de apoio, ONGs e associações também são importantes aliadas. Espaços de convivência e trocas de experiências contribuem para o fortalecimento da autoestima e da segurança emocional dos jovens autistas.
Políticas públicas: o elo que ainda falta
A construção da vida independente para pessoas com TEA não pode ser responsabilidade apenas das famílias. É urgente a criação de políticas públicas voltadas à transição para a vida adulta, que contemplem moradias assistidas, programas de formação profissional, acompanhamento psicológico contínuo e centros de apoio especializados.
Iniciativas como essas já existem em alguns países, com resultados positivos. No Brasil, no entanto, ainda são exceção. O desafio é transformar experiências pontuais em políticas permanentes e acessíveis.
Conclusão
Preparar jovens autistas para a autonomia é mais do que uma meta individual — é um compromisso coletivo com a inclusão e a dignidade. A vida independente não significa ausência total de apoio, mas sim o direito de viver com o máximo de liberdade possível, fazendo escolhas, exercendo cidadania e participando ativamente da sociedade.
Cada passo em direção à autonomia é uma conquista que precisa ser celebrada — e, acima de tudo, sustentada por uma rede de suporte preparada, inclusiva e humana.
Gi Ferro – Viver Autismo
Combatendo o Preconceito com Informação!