Apesar dos avanços em torno do diagnóstico e da conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), há um grupo que ainda permanece amplamente invisível: as mulheres autistas. No Brasil, essas mulheres enfrentam uma série de desafios que vão desde o subdiagnóstico até a exclusão social, passando pela falta de políticas públicas voltadas às suas necessidades específicas.
Por muito tempo, o autismo foi estudado e compreendido a partir de um viés masculino. Isso levou a uma distorção no diagnóstico, fazendo com que muitas meninas passassem despercebidas ou fossem confundidas com outros transtornos, como ansiedade, depressão ou até mesmo TDAH. Muitas mulheres só recebem o diagnóstico já na fase adulta, após anos de sofrimento emocional e social.
O que diferencia o autismo em mulheres?
Estudos e relatos clínicos indicam que as mulheres no espectro costumam desenvolver estratégias de camuflagem social – um esforço constante para parecer “neurotípica” e se encaixar nas expectativas sociais. Esse mascaramento, embora eficaz para esconder os traços mais visíveis do autismo, tem um custo emocional elevado: leva ao esgotamento, à baixa autoestima e a altos índices de depressão e ansiedade.
Além disso, há uma tendência de as mulheres autistas apresentarem interesses mais socialmente aceitos ou voltados ao cuidado, o que contribui para que seus comportamentos não sejam vistos como “típicos” do espectro. Essa diferença sutil, mas relevante, torna ainda mais difícil o reconhecimento precoce do TEA em meninas e mulheres.
Invisibilidade dentro da invisibilidade
A exclusão das mulheres autistas é dupla: sofrem tanto pela condição neurológica quanto pelas desigualdades de gênero. No ambiente escolar, muitas vezes são vistas como “tímidas” ou “estranhas”, mas raramente recebem apoio especializado. Na vida adulta, enfrentam dificuldades para entrar e se manter no mercado de trabalho, além de lidarem com estigmas em relacionamentos afetivos e familiares.
Outro ponto preocupante é a escassez de dados e pesquisas específicas sobre mulheres autistas no Brasil. Sem números, sem visibilidade e sem representatividade, elas continuam fora do radar das políticas públicas e das ações inclusivas. Poucas são as campanhas de conscientização que abordam as particularidades do autismo feminino.
Precisamos falar sobre elas
Falar sobre as mulheres autistas é urgente. É preciso romper o silêncio que cerca suas vivências e trazer à tona histórias reais, desafios cotidianos e, principalmente, formas de apoio mais justas e eficazes. A sociedade precisa entender que a inclusão de pessoas autistas só será completa quando todas as suas vozes forem ouvidas — inclusive as que, até hoje, foram ignoradas.
Conclusão
A realidade das mulheres autistas no Brasil exige visibilidade, empatia e ação. É hora de quebrar estigmas, revisar critérios diagnósticos e garantir que meninas e mulheres no espectro tenham acesso ao diagnóstico, ao acolhimento e ao suporte que merecem desde cedo. Incluir as mulheres autistas é uma questão de justiça social e de respeito à diversidade humana.
Gi Ferro – Viver Autismo
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