Autistas na Universidade: Desafios e Experiências no Ensino Superior

O ingresso na universidade representa um marco importante na vida de qualquer estudante. Para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), no entanto, essa etapa costuma vir acompanhada de obstáculos ainda mais complexos. Entre a adaptação à rotina acadêmica, os desafios de socialização e a ausência de suporte institucional adequado, muitos autistas enfrentam uma jornada solitária dentro das instituições de ensino superiores brasileiras.

Nos últimos anos, o número de estudantes com autismo nas universidades aumentou, impulsionado por políticas de inclusão e maior acesso ao diagnóstico. Apesar disso, ainda são poucos os espaços que oferecem estrutura e acolhimento adequados para essa parcela da população. Muitos alunos relatam a falta de preparo de professores, a escassez de adaptações pedagógicas e a dificuldade em obter laudos e apoio psicológico que garantam seus direitos.

“Eu tinha que ser meu próprio apoio”

Para muitos autistas, o primeiro desafio é a falta de compreensão sobre o que significa estar no espectro. “Eu sentia que precisava me explicar o tempo todo”, relata Clara*, estudante de Ciências Sociais que recebeu o diagnóstico aos 22 anos. “Os professores não sabiam como lidar, e os colegas me viam como antissocial ou esquisita. Era cansativo.”

A realidade vivida por Clara não é isolada. Segundo especialistas, o desconhecimento sobre o autismo em adultos — especialmente em ambientes acadêmicos — ainda é um grande entrave. Muitas instituições sequer contam com protocolos de inclusão específicos para o TEA, tratando todos os alunos com deficiência de maneira genérica.

Falta de adaptação e sobrecarga sensorial

Para estudantes autistas, ambientes barulhentos, salas lotadas, luzes fluorescentes e horários irregulares podem gerar crises de ansiedade e até desistência do curso. Além disso, apresentações orais, trabalhos em grupo e avaliações convencionais muitas vezes não consideram as dificuldades específicas enfrentadas por esses alunos.

“A universidade não entende que precisamos de outra forma de avaliação, não porque somos menos capazes, mas porque funcionamos de forma diferente”, afirma Lucas*, estudante de Engenharia que enfrenta resistência da coordenação para adaptar prazos de entrega.

Apoio especializado ainda é exceção

Algumas universidades públicas e privadas vêm avançando na inclusão de alunos com deficiência, por meio de núcleos de acessibilidade e atendimento psicopedagógico. Contudo, esses serviços ainda são limitados e nem sempre incluem profissionais capacitados para lidar com o espectro autista.

O que muitos estudantes apontam é a necessidade de medidas simples, mas eficazes: intérpretes da linguagem de sinais quando necessário, salas de apoio sensorial, tutores acadêmicos e professores treinados para identificar e respeitar as particularidades de cada aluno.

Caminhos para uma universidade verdadeiramente inclusiva

Especialistas defendem que, mais do que cumprir exigências legais, as instituições de ensino precisam rever sua cultura acadêmica e pedagógica. Incluir o autista no ambiente universitário não é apenas garantir o acesso físico às salas de aula, mas oferecer suporte emocional, adaptação curricular e empatia.

“A universidade tem que se comprometer com a permanência do aluno, e não apenas com a matrícula”, afirma a professora Elaine Rodrigues, pesquisadora em educação inclusiva. Segundo ela, investir na formação docente e na escuta ativa dos estudantes é o primeiro passo para construir um ensino superior mais justo.

Conclusão

O ensino superior ainda é um território repleto de barreiras para pessoas com autismo, mas também pode ser um espaço transformador. Ao reconhecer as diferenças e oferecer suporte adequado, a universidade tem o poder de formar profissionais autistas preparados para contribuir com a sociedade — e, mais do que isso, de validar suas vivências, talentos e formas únicas de existir no mundo.

* Nomes foram alterados a pedido dos entrevistados.

Gi Ferro – Viver Autismo
Combatendo o Preconceito com Informação!

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  • Nós somos o Viver Autismo, um movimento dedicado à luta contra o preconceito e à promoção da conscientização sobre o autismo. Desde 2013, temos trabalhado incansavelmente para levar conhecimento e compreensão a todos.

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