Saúde Mental de Cuidadores de Pessoas Autistas: Um Tema Urgente e Pouco Falado

Cuidar de uma pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma missão que exige amor, paciência e dedicação diária. Mas, por trás de toda a luta por terapias, direitos e inclusão, existe uma realidade muitas vezes invisível: o esgotamento físico e emocional dos cuidadores. Mães, pais, avós e responsáveis diretos por pessoas autistas enfrentam uma sobrecarga silenciosa que, quando ignorada, pode comprometer seriamente sua saúde mental.

Apesar dos avanços na conscientização sobre o autismo, pouco se fala sobre quem está nos bastidores dessa jornada. Estudos nacionais e internacionais indicam que cuidadores de pessoas com TEA têm maior propensão a desenvolver quadros de ansiedade, depressão, insônia, estresse crônico e até problemas de saúde física, como hipertensão e dores musculares.

O peso de uma rotina intensa

A rotina de quem cuida de uma pessoa autista muitas vezes gira em torno de terapias, adaptações, idas ao médico, dificuldades na escola, crises inesperadas e demandas constantes de atenção. Somam-se a isso as barreiras sociais, como o preconceito e a falta de apoio do Estado, o que intensifica o sentimento de solidão e sobrecarga emocional.

“É como se não houvesse espaço para cuidar de mim”, conta Adriana Silva, mãe de um menino de 9 anos com autismo. “Eu amo meu filho profundamente, mas há dias em que só queria poder respirar. Dormir sem medo de uma crise, sair sem ter que me justificar, viver sem culpa por estar exausta.”

A cultura da culpa e o abandono do autocuidado

Muitas mães relatam que se sentem culpadas ao expressar cansaço. Existe uma cobrança, velada ou explícita, de que o amor pelo filho deve ser suficiente para lidar com tudo. Mas amar não significa não se esgotar. E cuidar de si é parte essencial do cuidado com o outro.

Infelizmente, o autocuidado ainda é visto por muitos cuidadores como um luxo. Atividades simples como ir ao médico, sair com amigos ou praticar um hobby acabam sendo deixadas de lado por falta de tempo, recursos ou rede de apoio.

A importância da rede de apoio e do olhar institucional

É fundamental que os cuidadores não estejam sozinhos nessa caminhada. Ter com quem contar — seja um parente, um grupo de apoio, uma instituição ou um serviço público — pode fazer toda a diferença. Psicólogos, terapeutas e profissionais de saúde mental também devem estar atentos ao sofrimento desses cuidadores.

Políticas públicas voltadas ao suporte familiar ainda são escassas no Brasil. Projetos que ofereçam acolhimento psicológico, grupos de escuta, orientação emocional e momentos de descanso são urgentes e devem ser integrados às políticas de atenção à pessoa com deficiência.

Caminhos possíveis

Falar sobre a saúde mental de cuidadores é o primeiro passo para quebrar o silêncio. Criar espaços seguros de escuta, fortalecer a empatia e garantir o acesso a cuidados psicológicos são medidas que precisam ser incentivadas em todos os níveis da sociedade.

Abril é o Mês da Conscientização do Autismo, e talvez não haja momento mais oportuno para ampliar essa discussão. Porque, ao cuidar de quem cuida, estamos, na verdade, cuidando de toda a rede de afeto que sustenta as pessoas autistas. E isso é responsabilidade de todos nós.

Gi Ferro – Viver Autismo
Combatendo o Preconceito com Informação!

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  • Nós somos o Viver Autismo, um movimento dedicado à luta contra o preconceito e à promoção da conscientização sobre o autismo. Desde 2013, temos trabalhado incansavelmente para levar conhecimento e compreensão a todos.

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